Desde que os brasileiros começaram a participar da Fórmula Indy, em 1984, diversas corridas da categoria se tornaram marcos importantes para o automobilismo brasileiro. A prova de Long Beach, em 1984, foi a primeira participação de um brasileiro na categoria; a prova de Michigan em 1985, primeira vitória de um brasileiro; a Indy 500 de 1989, primeira vitória de um brasileiro na importante prova; Nazareth, 1989, primeiro título de um brasileiro; Rio, 1996, primeira prova da categoria no Brasil, com vitória de um brasileiro. De fato, durante muito tempo a categoria foi a única fonte de alegria do torcedor brasileiro de automobilismo, devido à falta de vitórias de pilotos do País na Fórmula 1 entre o GP da Austrália de 1993 e o GP da Alemanha de 2000. Entretanto, cabe notar que os dois últimos títulos brasileiros na Fórmula 1, em 90 e 91, ocorreram depois do único título da Fórmula Indy em 89. Ou seja, no ano 2000 embora os brasileiros ganhassem corridas, estavam longe dos títulos.
A prova de Fontana de 2000 foi um marco importante da participação brasileira no campeonato, por uma série de razões que veremos a seguir. Fontana estava sendo escalada como prova de encerramento com o óbvio objetivo de criar uma prova de 500 Milhas na Costa Oeste dos Estados Unidos que pudesse ao menos ter um pouco do prestígio da Indy 500 da série rival IRL. Entre outras coisas, o vencedor da prova ganharia 1 milhão de dólares, valor nada desprezível.
A CART era um campeonato muito mais forte do que a Formula Mundial de hoje. Entre outros, participavam do campeonato Michael Andretti, Jimmy Vasser, Juan Pablo Montoya, Paul Tracy, Dario Franchitti, Mark Blundell, Max Papis. Destes somente Tracy permanece ativo no campeonato que já chegou a peitar a Fórmula 1, pelo menos em teoria. E naquela final de campeonato de 2000, havia oito brasileiros presentes: Gil de Ferran, Helio Castroneves, Mauricio Gugelmin, Tony Kanaan, Roberto Moreno, Cristiano da Matta, Christian Fittipaldi e Luiz Garcia Jr.
Pela primeira vez desde 1989 um brasileiro chegava à última prova na liderança do campeonato, na condição de favorito. Gil de Ferran, que já fora vice-campeão em 1997, trocara de equipe no início de 2000. Após passar diversos anos nas equipes Hall e Walker, que não eram equipes de ponta, Gil foi contratado pela Penske no final de 1999, para fazer dupla com o canadense Greg Moore. Este último acabou morrendo em um acidente na mesma Fontana em 1999, e seu lugar foi ocupado por outro brasileiro, Castroneves, que até hoje está na equipe.
Ser o primeiro piloto da Penske seria o sonho de qualquer piloto de Formula Indy, em condições normais, se não fosse pelas duas últimas temporadas da equipe, em 1998 e 1999. O primeiro piloto da escuderia, Al Unser Junior, caiu tremendamente de produção, e nas suas últimas corridas pela equipe largava sempre entre os últimos e obtinha resultados ridículos. Para piorar, o uruguaio Gonzalo Rodriguez morreu pilotando um carro da Penske em Laguna Seca, em 1999, o primeiro acidente fatal da equipe desde a esquisita morte de Mark Donohue em 1975. Roger Penske, bem sucedido não só nas corridas, mas também como empresário, resolveu que era hora de fazer grandes mudanças. Entre outras coisas, pararia de fabricar chassis próprios.
Isto podia significar duas coisas: a Penske estaria equiparada em termos de equipamentos com outras equipes que também usassem o Reynard, o melhor chassis da categoria, mas também perderia qualquer vantagem competitiva de ter um chassis único. Como esta vantagem já não existia de qualquer jeito nos últimos anos, Penske resolveu passar de construtor a cliente, e em 1999, usou tanto o seu próprio chassis, como o Lola. Por fim, resolveu usar o Reynard a partir de 2000.
A Penske não dominou o campeonato de 2000, como fizera em 1994, quando Unser, Emerson e Tracy ganharam a maioria das corridas, e terminaram 1-2-3 na classificação final. De fato, o campeonato de 2000 foi equilibrado, e chegando na última prova, de Ferran tinha que disputar com Adrian Fernandez, que fizera uma grande temporada com a Patrick, a mesma equipe na qual Fittipaldi ganhara seu único título, em 1989. Para a Penske, o mais importante é que a equipe voltara a ganhar provas, pois Castroneves ganhou três e de Ferran, duas.
As coisas começaram a favor de Gil, pois nos treinos marcara a pole,, seguido de Andretti, Christian, Castroneves, Montoya e Vasser. Por outro lado seu concorrente Fernandez largaria somente na 14a. posição, embora isso seja muito relativo em uma corrida de 500 Milhas.
Gil e Helio dispararam na frente, e trocaram a liderança entre eles nas primeiras 20 voltas, demonstrando certa supremacia da Penske. Após a primeira rodada de pitstops, quem saiu na frente foi Montoya, que no ano seguinte iniciaria sua carreira na Fórmula 1, mas começou a chover na volta 33 e a corrida foi interrompida, pois Fontana é uma pista oval. A decisão do campeonato não seria no domingo, e sim na segunda-feira, pois não parou de chover.
Com os portões abertos no dia seguinte, logo pode-se notar que esta seria uma corrida com muitos líderes. De fato, dos 25 pilotos que disputaram a prova (Garcia não largou), 12, ou quase a metade, lideraram ao menos uma volta. Também ficou evidente que seria uma prova com muitos abandonos, pois na metade da corrida, 12 carros já haviam abandonado, inclusive a maioria dos carros com motor Mercedes-Benz, fábrica que fazia a sua última prova na CART, e a maioria dos equipados com Toyota. De fato, o motor com a melhor performance era indisputavelmente o Ford.
O piloto que liderou mais voltas foi o sueco Kenny Brack, da equipe Rahal, que acabou abandonando na volta 167, e Juan Pablo Montoya, que fazia sua última prova na categoria, também andou entre os líderes até abandonar na volta 219. Mais importante é que Gil de Ferran se mantinha consistentemente na frente do seu rival Adrian Fernandez, administrando bem a sua pequena vantagem de pontos, embora Gil contasse com motor Honda, em desvantagem naquela corrida, e Fernandez, com o sólido Ford. Dentre os pilotos que lideraram estavam os americanos Alex Barron e o estreante Casey Mears, sobrinho do super-campeão Rick Mears. Incrivelmente, cinco dos brasileiros presentes lideraram pelo menos uma volta: Gil, Chritsian, Moreno, Castroneves e Gugelmin. Mais incrível ainda, com o abandono de Montoya ficaram nove carros na pista, cinco deles pilotados por brasileiros, com Christian Fittipaldi e Castroneves na ponta.
A esta altura, as coisas iam de mal a pior para Adrian Fernandez, e só o abandono de Gil de Ferran,e de outros pilotos à sua frente lhe traria o título. Seu carro teve problemas de estabilidade e de motor, e embora o carro de Gil tivesse morrido em uma das paradas nos boxes, o mexicano não obteve vantagem com o problema, ficando evidente que o título da CART iria para o Brasil pela primeira vez desde 1989, salvo por uma grande zebra.
Nas últimas vinte e cinco voltas mais três abandonos. Castroneves teve um acidente, o excelente Alex Barron, com carro da fraca equipe de Dale Coyne, teve problemas de motor, e o canadense Alex Tagliani teve um acidente na penúltima volta. Restaram na pista somente seis carros, quatro pilotados por brasileiros, com Christian na frente de Moreno e Gil, chegando todos dentro do mesmo segundo.
E assim terminou a prova, com diversos marcos importantes:
* Três brasileiros nas três primeiras posições da corrida;
* Gil de Ferran campeão de 2000 da CART;
* Roberto Moreno em terceiro lugar no campeonato;
* E dois pilotos brasileiros ganhando um milhão de dólares no mesmo dia: Christian Fittipaldi pela vitória na corrida, Gil de Ferran pela vitória no campeonato.
Desde então, pilotos brasileiros já conquistaram três outros campeonatos de Formula Indy, sendo dois da CART e um da IRL, além de três edições da Indy 500.
Resultado da Marlboro 500, Califórnia Speedway em Fontana
30 de outubro de 2000
1. Christian Fittipaldi, Lola-Ford, 250 v em 3h38m04,376s
2. Roberto Moreno, Reynard-Ford, 250v em 3h38m04,570s
3. Gil de Ferran, Reynard-Honda, 250 v em 3h38m04,902s
4. Casey Mears, Reynard-Ford, 250v, 3h38m05,097s
5. Adrian Fernandez, Reynard-Ford, 250 v, em 3h38m05.521s
NC Alex Tagliani, Reynard-Ford, 248 voltas
7. Tarso Marques, Swift-Ford, 247 v
A prova de Fontana de 2000 foi um marco importante da participação brasileira no campeonato, por uma série de razões que veremos a seguir. Fontana estava sendo escalada como prova de encerramento com o óbvio objetivo de criar uma prova de 500 Milhas na Costa Oeste dos Estados Unidos que pudesse ao menos ter um pouco do prestígio da Indy 500 da série rival IRL. Entre outras coisas, o vencedor da prova ganharia 1 milhão de dólares, valor nada desprezível.
A CART era um campeonato muito mais forte do que a Formula Mundial de hoje. Entre outros, participavam do campeonato Michael Andretti, Jimmy Vasser, Juan Pablo Montoya, Paul Tracy, Dario Franchitti, Mark Blundell, Max Papis. Destes somente Tracy permanece ativo no campeonato que já chegou a peitar a Fórmula 1, pelo menos em teoria. E naquela final de campeonato de 2000, havia oito brasileiros presentes: Gil de Ferran, Helio Castroneves, Mauricio Gugelmin, Tony Kanaan, Roberto Moreno, Cristiano da Matta, Christian Fittipaldi e Luiz Garcia Jr.
Pela primeira vez desde 1989 um brasileiro chegava à última prova na liderança do campeonato, na condição de favorito. Gil de Ferran, que já fora vice-campeão em 1997, trocara de equipe no início de 2000. Após passar diversos anos nas equipes Hall e Walker, que não eram equipes de ponta, Gil foi contratado pela Penske no final de 1999, para fazer dupla com o canadense Greg Moore. Este último acabou morrendo em um acidente na mesma Fontana em 1999, e seu lugar foi ocupado por outro brasileiro, Castroneves, que até hoje está na equipe.
Ser o primeiro piloto da Penske seria o sonho de qualquer piloto de Formula Indy, em condições normais, se não fosse pelas duas últimas temporadas da equipe, em 1998 e 1999. O primeiro piloto da escuderia, Al Unser Junior, caiu tremendamente de produção, e nas suas últimas corridas pela equipe largava sempre entre os últimos e obtinha resultados ridículos. Para piorar, o uruguaio Gonzalo Rodriguez morreu pilotando um carro da Penske em Laguna Seca, em 1999, o primeiro acidente fatal da equipe desde a esquisita morte de Mark Donohue em 1975. Roger Penske, bem sucedido não só nas corridas, mas também como empresário, resolveu que era hora de fazer grandes mudanças. Entre outras coisas, pararia de fabricar chassis próprios.
Isto podia significar duas coisas: a Penske estaria equiparada em termos de equipamentos com outras equipes que também usassem o Reynard, o melhor chassis da categoria, mas também perderia qualquer vantagem competitiva de ter um chassis único. Como esta vantagem já não existia de qualquer jeito nos últimos anos, Penske resolveu passar de construtor a cliente, e em 1999, usou tanto o seu próprio chassis, como o Lola. Por fim, resolveu usar o Reynard a partir de 2000.
A Penske não dominou o campeonato de 2000, como fizera em 1994, quando Unser, Emerson e Tracy ganharam a maioria das corridas, e terminaram 1-2-3 na classificação final. De fato, o campeonato de 2000 foi equilibrado, e chegando na última prova, de Ferran tinha que disputar com Adrian Fernandez, que fizera uma grande temporada com a Patrick, a mesma equipe na qual Fittipaldi ganhara seu único título, em 1989. Para a Penske, o mais importante é que a equipe voltara a ganhar provas, pois Castroneves ganhou três e de Ferran, duas.
As coisas começaram a favor de Gil, pois nos treinos marcara a pole,, seguido de Andretti, Christian, Castroneves, Montoya e Vasser. Por outro lado seu concorrente Fernandez largaria somente na 14a. posição, embora isso seja muito relativo em uma corrida de 500 Milhas.
Gil e Helio dispararam na frente, e trocaram a liderança entre eles nas primeiras 20 voltas, demonstrando certa supremacia da Penske. Após a primeira rodada de pitstops, quem saiu na frente foi Montoya, que no ano seguinte iniciaria sua carreira na Fórmula 1, mas começou a chover na volta 33 e a corrida foi interrompida, pois Fontana é uma pista oval. A decisão do campeonato não seria no domingo, e sim na segunda-feira, pois não parou de chover.
Com os portões abertos no dia seguinte, logo pode-se notar que esta seria uma corrida com muitos líderes. De fato, dos 25 pilotos que disputaram a prova (Garcia não largou), 12, ou quase a metade, lideraram ao menos uma volta. Também ficou evidente que seria uma prova com muitos abandonos, pois na metade da corrida, 12 carros já haviam abandonado, inclusive a maioria dos carros com motor Mercedes-Benz, fábrica que fazia a sua última prova na CART, e a maioria dos equipados com Toyota. De fato, o motor com a melhor performance era indisputavelmente o Ford.
O piloto que liderou mais voltas foi o sueco Kenny Brack, da equipe Rahal, que acabou abandonando na volta 167, e Juan Pablo Montoya, que fazia sua última prova na categoria, também andou entre os líderes até abandonar na volta 219. Mais importante é que Gil de Ferran se mantinha consistentemente na frente do seu rival Adrian Fernandez, administrando bem a sua pequena vantagem de pontos, embora Gil contasse com motor Honda, em desvantagem naquela corrida, e Fernandez, com o sólido Ford. Dentre os pilotos que lideraram estavam os americanos Alex Barron e o estreante Casey Mears, sobrinho do super-campeão Rick Mears. Incrivelmente, cinco dos brasileiros presentes lideraram pelo menos uma volta: Gil, Chritsian, Moreno, Castroneves e Gugelmin. Mais incrível ainda, com o abandono de Montoya ficaram nove carros na pista, cinco deles pilotados por brasileiros, com Christian Fittipaldi e Castroneves na ponta.
A esta altura, as coisas iam de mal a pior para Adrian Fernandez, e só o abandono de Gil de Ferran,e de outros pilotos à sua frente lhe traria o título. Seu carro teve problemas de estabilidade e de motor, e embora o carro de Gil tivesse morrido em uma das paradas nos boxes, o mexicano não obteve vantagem com o problema, ficando evidente que o título da CART iria para o Brasil pela primeira vez desde 1989, salvo por uma grande zebra.
Nas últimas vinte e cinco voltas mais três abandonos. Castroneves teve um acidente, o excelente Alex Barron, com carro da fraca equipe de Dale Coyne, teve problemas de motor, e o canadense Alex Tagliani teve um acidente na penúltima volta. Restaram na pista somente seis carros, quatro pilotados por brasileiros, com Christian na frente de Moreno e Gil, chegando todos dentro do mesmo segundo.
E assim terminou a prova, com diversos marcos importantes:
* Três brasileiros nas três primeiras posições da corrida;
* Gil de Ferran campeão de 2000 da CART;
* Roberto Moreno em terceiro lugar no campeonato;
* E dois pilotos brasileiros ganhando um milhão de dólares no mesmo dia: Christian Fittipaldi pela vitória na corrida, Gil de Ferran pela vitória no campeonato.
Desde então, pilotos brasileiros já conquistaram três outros campeonatos de Formula Indy, sendo dois da CART e um da IRL, além de três edições da Indy 500.
Resultado da Marlboro 500, Califórnia Speedway em Fontana
30 de outubro de 2000
1. Christian Fittipaldi, Lola-Ford, 250 v em 3h38m04,376s
2. Roberto Moreno, Reynard-Ford, 250v em 3h38m04,570s
3. Gil de Ferran, Reynard-Honda, 250 v em 3h38m04,902s
4. Casey Mears, Reynard-Ford, 250v, 3h38m05,097s
5. Adrian Fernandez, Reynard-Ford, 250 v, em 3h38m05.521s
NC Alex Tagliani, Reynard-Ford, 248 voltas
7. Tarso Marques, Swift-Ford, 247 v